terça-feira, 8 de julho de 2008

A teoria na prática: a relação entre pesquisa acadêmica e o fazer política.

Por Cleide Muller, Elisa Priori, Gabriela Cerqueira e Raquel Selbach, estudantes de Relações Públicas da UFRGS

A
respeito da temática Comunicação e Política, OCappuccino investigou a interrelação entre as pesquisas acadêmicas que vêm sendo desenvolvidas em torno do assunto e sua aplicação nas práticas que envolvem a atividade de assessoria política, desenvolvida por profissionais de comunicação. Foram ouvidas as opiniões de dois pesquisadores da área, docentes da graduação e pós-graduação na FABICO/UFRGS, Dra. Maria Helena Weber e Dr. Rudimar Baldissera.


O
cappuccino: De que forma as pesquisas sobre o campo político, realizadas nas universidades, se relacionam com o cenário político atual?

M
aria Helena Weber
: As pesquisas possuem uma relação de intimidade com esse cenário. É dele que surgem algumas das mais instigantes questões de pesquisa. No campo acadêmico estão as perguntas e análises sobre os acontecimentos e repercussões dos fatos políticos. Isso pode ser desenvolvido a partir de uma linha de tempo, conceitos teóricos, estudos de caso e assim por diante.


R
udimar Baldissera:
Sem dúvida, o cenário político atual tem sido objeto de estudo acadêmico, até porque, mesmo as pesquisas que se propõem epistêmico-teóricas, necessitam de objetos empíricos para sua verificação/validação e/ou refutação. Os objetos empíricos têm assumido importância para o avanço dos estudos na área, seja como objetos de estudo para dissertações e teses de doutorado e/ou para as investigações desenvolvidas a partir de linhas de pesquisa das universidades e outros órgãos de fomento.


O
cappuccino:
Como as pesquisas acadêmicas vêm contribuindo para a atividade político-partidária, no que tange à comunicação?

M
aria Helena Weber
:
Contribuem muito, mas creio que o campo político não sabe e não aproveita isso. Nesse sentido, pode-se identificar duas perspectivas. Uma diz respeito aos pesquisadores acadêmicos, que possuem algum tipo de envolvimento com algum partido e passam a pensar estratégias e ações de comunicação. A outra pode ser identificada quando assessores de partidos buscam formação acadêmica.

R
udimar Baldissera:
Elas também podem contribuir na realização da crítica aos processos de comunicação atualizados pelos partidos políticos, no desenvolvimento/preparação de pessoas para atuarem estrategicamente nessa área e na desconstrução de estratégias, sua análise e a divulgação dos resultados que, por sua vez, podem ser apropriados pelos partidos políticos para, com isso, qualificarem seus processos.

O
cappuccino:
Os profissionais do campo político têm conhecimento sobre as pesquisas que estão sendo desenvolvidas nas universidades?

M
aria Helena Weber
:
Creio que têm. Na verdade, por mais incongruente que possa parecer, o campo da política quer soluções rápidas e visíveis ofertadas pela propaganda, marketing político-eleitoral e todos os profissionais com soluções semi-prontas. Inúmeras vezes participei desse processo, mas em poucas tive liberdade para pensar e executar estratégias sedimentadas pela experiência com a pesquisa acadêmica.

R
udimar Baldissera:
Em alguns casos, evidencia-se muito conhecimento, até porque, muitas vezes, esses mesmos pesquisadores atuam em nível de assessoria/consultoria para os sujeitos políticos (partidos, candidatos, governantes e governos), e noutras vezes parece haver total desconhecimento e/ou esses saberes produzidos pela academia são deixados de lado. Porém, o campo político apropria-se do conhecimento gerado pela academia, sim.

Ocappuccino: É possível perceber que esses profissionais da política buscam informações nas pesquisas acadêmicas realizadas, para elaborar alguma forma de planejamento de campanha/imagem?

Maria Helena Weber: Posso dizer que o planejamento de campanha e imagem baseia-se, em geral, nos resultados de pesquisas/sondagens de opinião e pesquisas qualitativas, normalmente utilizadas pelos assessores políticos, agências de propaganda e outros profissionais. Os pesquisadores de comunicação e política, assim como cientistas políticos que se envolvem com campanhas, participam com análises e sugestão de estratégias, mas a palavra final vem sempre da assessoria política. No caso das assessorias políticas, no que tange às relações públicas, percebe-se que esta ainda está muito vinculada ao cerimonial e eventos. Em geral, o jornalista ocupa as coordenações e a propaganda dá visibilidade à política. Mas pode-se dizer que, cada vez mais os profissionais de relações públicas são chamados para atuar nas comunicações estratégicas das instituições. Significa dizer que o RRPP possui um instrumental mais adequado para executar a comunicação institucional.

Rudimar Baldissera:
É possível perceber que as campanhas que têm sido desenvolvidas pelos partidos, têm apresentado cada vez mais qualidade estética, atentando para a gramática das mídias. Na mesma direção estão as questões de imagem. Os sujeitos políticos são assessorados de modo a apresentar-se e a expressar idéias que, de alguma forma e em algum nível, possam gerar a identificação para com seu público-alvo, seus eleitores. Esse conhecimento, pode-se dizer, é inferido nos/dos fazeres cotidianos, é do fazer política, porém não se reduz a esse lugar, ou seja, é da cotidianidade política, mas também é lapidado em pesquisas acadêmicas que procuram investigar em profundidade tais materializações.

Maria Helena Weber é Doutora em Comunicação e Cultura, Mestre em Sociologia e Graduada em Relações Públicas e Propaganda (FABICO/UFRGS). Atualmente é professora na FABICO e pesquisadora do CNPQ com o projeto A Comunicação Pública dos Poderes e o Poder da mídia no Brasil. Trabalhou como coordenadora de comunicação do governo do PT em Porto Alegre (1989/1991) e chefe da assessoria de comunicação do MEC (2004/2005). É autora do livro Comunicação e Espetáculos da Política (2000) e de artigos nacionais e internacionais, na área de comunicação e política.


Rudimar Baldissera é Doutor em Comunicação Social, Mestre em Ciências da Comunicação e Graduado em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Atualmente é professor e pesquisador na UFRGS, e, entre as disciplinas que leciona na FABICO, constam Teoria de Opinião Pública e Assessoria Política.

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