segunda-feira, 14 de julho de 2008

Os bastidores da fama.

Por Fernando Silveira Kessler, Waldomiro Neto e Roberta Weber Calabró, estudantes de Relações Públicas da UFRGS



Na área de Relações Públicas, um ramo pouco lembrado, mas que vem crescendo em ritmo acelerado, é o de assessoria de famosos e personalidades. Todo mês surgem personalidades novas que encantam o público (com as novas tecnologias de informação, qualquer um pode se tornar famoso da noite para o dia); e estas personalidades, estrelas em ascensão, necessitam de assessores.



Segundo José Benedito Pinho, autor de diversos livros relacionados à área de assessoria, cabe ao profissional das RRPP, avaliar as atitudes de um determinado público, identificando os procedimentos de forma individual, ou da organização (ou empresas, órgãos governamentais, instituições e pessoas), na busca do interesse comum, além de planejar e executar um programa de ação para conquistar compreensão e aceitação.



Assessores que cuidam da imagem de políticos não são novidades, pois esses são os principais alvos de denúncias e a coerência e integridade de suas ações são expostas para um público que abrange todo um país. Porém, os famosos também têm sua privacidade invadida e uma superexposição de sua imagem. Hoje, é comum encontrar empresas e pessoas, independentemente de sua área de atuação, contando com o suporte de uma agência de RP. Descobriram, e as razões para isso são as mais variadas, a relevância desta atividade dentro do mix de comunicação, que sempre se quer o mais completo possível.



Mas o que faz, exatamente, um assessor? Quais são os sabores e dissabores deste ramo das RRPP tão desconhecido, e por que não dizer, sonhado?



Para entender melhor o papel de um Assessor de Estrelas, entrevistamos Roberto Renato Calabró, formado em Relações Públicas e Publicidade e Propaganda pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Roberto trabalhou muitos anos ao lado de estrelas como Mamonas Assassinas, Daniela Mercury, O Rappa, Kid Abelha e Barão Vermelho, e em mais de 400 shows. Como profissional experimentado, pôde oferecer à Cappuccino uma visão mais abrangente do ramo, como produtor artístico e assessor direto de artistas; os dois lados de uma mesma moeda:



VISÃO DO PRODUTOR ARTÍSTICO



Ocappuccino: Quem é e o que faz um produtor artístico?




Roberto: O Produtor artístico trabalha para o CONTRATANTE, que é quem contrata e paga o show. Ele obedece todas as exigências do empresário artístico, e é encarregado de que o espetáculo cumpra tudo o que for determinado pelo CONTRATADO. O CONTRATADO é o representante de todas as exigências técnicas e pessoais do artista, uma vez que como agente ele é subordinado aos mesmos e tem por dever exigir o que foi solicitado.



Ocappuccino: O que o produtor artístico precisa providenciar para a vinda do artista?




Roberto: No pré-show, normalmente até 30 dias antes da apresentação, o contratante envia ao produtor algumas exigências a serem providenciadas. Entre elas estão as passagens aéreas e o excesso de bagagem dos equipamentos, o transporte local dos artistas e da equipe técnica, a reserva de hotéis, a cobertura e divulgação na mídia, e todos serviços terceirizados na hora do show como segurança, bilheteria etc... Todos estes custos normalmente são por conta do contratante. Enfim, quando o artista se apresenta tem que estar tudo conforme o solicitado, senão contratualmente, por uma simples falta de água de coco no camarim pode não se apresentar.



Ocappuccino: O que o produtor artístico precisa conhecer para a realização de um show?


Roberto: A primeira coisa que o produtor de shows ou produtor artístico deve saber é o dia, a hora e local (cidade) da apresentação. Depois disso, muitas outras coisas são indispensáveis, como a capacidade e estrutura do local e detalhamento do palco, a rede de energia elétrica, o rider técnico, todo o caminho de acesso do artista, os camarins e o espaço para atender á imprensa.

Ocappuccino: No dia do show e depois do término, qual o trabalho do produtor?


Roberto: O produtor deve deixar tudo preparado tanto no início, no meio e no final do show, para que todo o evento obtenha sucesso. Basicamente é isso, no dia do show deve coordenar as equipes terceirizadas, que são as que controlam bilheteria, fazem a segurança, montam o palco, montam os camarins, fazem a luz do espetáculo, e o som. Acompanhar principalmente a passagem de som e luz feita pelos artistas, que normalmente ocorre até quatro horas antes do show.

Ocappuccino: Qual a média de salário de um produtor de shows?


Roberto: Não tem como identificar uma média de salário. Depende se o lucro é feito pela bilheteria ou se é estipulado pelo contratante. A gente não ganha muito, pois a grande fatia vai para o artista e ás vezes, ganhamos mais quando o empresário e a equipe têm a sorte de cumprir todas exigências e ainda sobra dinheiro.

VISÃO DO ASSESSOR DIRETO DO ARTISTA

Ocappuccino: Você também foi, além de produtor artístico, assessor direto do artista?


Roberto: Sim, também fui empresário artístico e até produtor musical de novos talentos. Mesmo deixando de ser produtor de shows sempre me envolvi com a tarefa, passando para o outro lado, a de contratado e exigindo tudo o que exigiam de mim, quando eu era o contratante.

Ocppuccino: Como é ser um assessor de estrelas?


Roberto: O empresário e assessor artístico, opina sobre tudo, incluindo as músicas, as letras a serem gravadas, e os figurinos a serem usados. Ele contrata os músicos que acompanham o artista, a equipe técnica, e até a dieta que ele deve fazer. Define com quem ele vai dançar, onde pode dar autógrafos, enfim, tudo que se possa imaginar.

Ocappuccino: Como é lidar com essa mudança de artista pouco conhecido para estrelinha?


Roberto: Em geral, o artista começa humilde e quer passar essa imagem aos fãs e à imprensa. Mas tão logo começa a lotar os lugares, ganhar mais dinheiro e aparecer, o sucesso sobe à cabeça. Se ele não tem controle psicológico e estrutura o suficiente, ele acaba se achando o máximo e o dono de toda a verdade num curto espaço de tempo. A primeira coisa que ele pede ao seu assessor é para aumentar o cachê. Depois, ele mergulha profundamente num mundo inatingível que é só seu e, como nos chamamos, vira estrelinha.

Ocappuccino: Qual as principais dificuldades de um assessor de estrelas?

Roberto: Acho que a maior dificuldade é, dependendo do artista, você ter que lidar com uma pessoa geniosa e temperamental, que não tem hora pra te acordar, chamá-lo para conversas, discutir trabalho. Você tem que estar sempre disponível. Mas, é muito mais fácil e divertido ser assessor direto, mesmo que você tenha dificuldades. Você deve assumir uma posição, e mesmo que você seja fã do artista, deve ter profissionalismo.

Ocappuccino: Qual a sua preferência? Produtor artístico, empresário ou assessor artístico?

Roberto: De forma independente e em minha empresa, também fui contratante e fiz vários eventos e feiras, mas me arrependo. Prefiro ser o empresário artístico, o contratado.

Ocappuccino: E alguns casos?


Roberto:Vou contar alguns casos de shows que produzi e de experiências que vivenciei como empresário.

* MAMONAS ASSASSINAS: Com os Mamonas foram tantas histórias incríveis nos mais de 70 shows.

Num caso, que esta no vídeo MTV na Estrada, chegamos em um hotel em Florianópolis e não havia mais quartos, tomados pelos argentinos e falha na reserva de quem contratou. Não tivemos dúvida: todos esticamos as almofadas do hotel, pegamos os travesseiros e ficamos no corredor mesmo, e ainda exigimos café da manhã.

Em outro caso, num show dos Mamonas Assassinas em Belo Horizonte, o Dinho – vocalista dos Mamonas Assassinas – abriu seu armário e de dentro saltou uma menina de 16 anos toda nua e se atracou em beijos com ele. Imediatamente, eu chamei a equipe de segurança.

* KID ABELHA: A Paula Toller do Kid Abelha, sempre muito estressada, uma vez quebrou as taças de champanhe de uma senhora que as tinha desde o tempo da sua bisavó. Eu peguei parte da grana do cachê dela para comprar taças novas e fiz com que ela escrevesse um bilhete de desculpas para a senhora, mesmo que o valor sentimental fosse muito maior que o material.


Paula Toller e Roberto Calabró


2 comentários:

Anônimo 25 de novembro de 2008 às 12:11  

adorei o blog.

Ocappuccino.com 30 de agosto de 2009 às 14:25  

Obrigado Tais, seja sempre bem vinda.

Mateus

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