Passado: obsolecência ou tendência?
quarta-feira | 30 de junho de 2010
Você é daquelas pessoas que, quando surge uma modinha, logo se adapta ou custa a aceitar certas modificações? Esse assunto foi abordado pela ISTOÉ da semana passada.
Sabemos que surgem aparelhos com novas tecnologias quase que diariamente. Há pouco acompanhamos o lançamento do iPad que vendeu mais de 300 mil unidades nas primeiras 24h, com filas enormes de espera. Depois, o mesmo aconteceu com o iPhone 4, lançado há pouco em alguns países e vendeu, em três dias, cerca de 1,7 milhão de unidades.
Assim como existem pessoas desesperadas por lançamentos, há também aqueles que resistem a isso. Essa turma não é pequena como muitos pensam. Essa mania já está se disseminando. Eles curtem muito mais bater fotos em câmeras de filme do que nas digitais, alguns até dispensam o computador para utilizar a velha máquina de escrever. Os fãs de música preferem ouvir discos de vinil do que CDs ou DVDs e tem ainda os que gravam músicas em fitas de cassete. Bandas inclusive já estão se adaptando à realidade dos apegados ao passado e estão relançando seu repertório nas K7.
Têm outras que voltam mais ainda e estão resgatando os discos de vinil, objeto de fetiche de muitos fãs. O que também colabora com a volta do chamado LP é a crescente desilusão com o som do CD e do MP3. Dizem que o CD tem seu áudio límpido, mas excessivamente magro (e às vezes metálico). Com o vinil, a variação vai de precisa a cheia, dizem os engenheiros de masterização. E se ainda está achando que a venda de vinil é um mercado pequeno, engana-se! Só nos EUA, uma pesquisa da Nielsen Soundscan documentou um crescimento de mais de 100% em 2008, e algo em torno de 40% em 2009. Outro fator que me faz acreditar nesta tendência é que a única fábrica desse tipo de discos da América Latina, a Polysom, reabriu suas portas no começo desse ano, na Baixada Fluminense.
Temos aí mais um mercado de nicho! Mas antes de explorar, primeiro temos que entender o porquê deste movimento ao retrô. Na revista, o professor Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV levanta uma reflexão importante deste comportamento: Nasce uma ‘cultura de resistência’ que resgata mídias que ficaram obsoletas, mas que não perderam a sua poesia. Os adeptos a esse tipo de pensamento alegam que as pessoas estão perdendo a materialidade das coisas, e dão mais valor ao fato de poder tocar e pegar no objeto.
Cultura da resistência! Mas essa cultura faz parte de um modismo cíclico como é a moda que muitas vezes busca tendências no passado? Vivemos numa época em que o cult é apreciado, mas por quê? Também somos uma sociedade da cultura pirata (no sentido de cópia), então este consumo revival faz parte deste copy paste dos norte americanos ou é uma identidade nossa, própria e voltada às origens? É só mais um modismo passageiro (um capricho) de colecionadores ou é uma tendência que pode ser percebida em outra áreas (conhecem o Novo Uno)? Será que já descobrimos tudo e percebemos que éramos felizes e não sabíamos?
E as mídias sociais, com todo este dogma de relacionamento + participação, irão se tornar mídias obsoletas em quanto tempo? Porque com tudo tão efêmero, tão descartável, por quanto tempo você quer seguir, ler ou conversar com a mesma pessoa? Por quanto tempo aquela pessoa ou aquela marca é relevante pra você? Quanto tempo dura uma nova informação hoje? Não dura, ela já nasce com o prazo de validade vencido. E por fim, como devemos trabalhar e nos beneficiar disso tudo, pois certamente se abre um novo mercado, um novo consumo?
Eu não tenho estas respostas. Já nasci nesse mundo em que o tempo não se mede no relógio e sim em bits. Um mundo de obsolescência programada, de invenções a todo instante. Não tenho apego pelo passado, por tecnologias e objetos ultrapassados - às vezes até me esqueço que algum dia já existiu disquete. Sou louca por novas tecnologias e quem me dera poder ter todas elas! Será que estou ficando obsoleta? E você?